Uma famosa frase de Lênin diz que “Há décadas em que nada acontece e há semanas em que décadas acontecem”. Esse não é o caso de 2020, no Brasil ou no mundo, mas mesmo assim nessa última semana parece que os fatos tomaram uma dose de anabolizante. Depois de meses de manifestos restritos ao ambiente virtual, a revolta, catalisada pelas lutas antirracistas, pelas torcidas organizadas antifascistas de São Paulo e apoiada pelos movimentos sociais, voltou às ruas em manifestações pedindo o Fora Bolsonaro e Mourão. E o governo sente a pressão diante do inquérito das Fake News, julgamento no TSE que pede a cassação da chapa e a prisão do miliciano Queiroz, amigo e aliado da família Bolsonaro, preso em um sítio de propriedade do advogado do presidente. Existem diversas pontas soltas, que parecem levar à morte de outro ex-amigo ligado às milícias, o comandante Adriano e, portanto, com potencial de responder a pergunta que assola o país há 828 dias: quem mandou matar Marielle?
Essa semana o Brasil atinge uma marca triste: quase 50 mil mortos pela pandemia de Covid-10 e mais de um milhão de pessoas infectadas. São milhares de famílias que agora choram a partida de algum ente querido.
A semana finaliza com a queda de Weintraub, o sujeito que à frente do MEC patrocinou o mais violento ataque à autonomia universitária, além de estabelecer uma agenda ideologicamente hiperbolizada que tinha como foco atacar os docentes, técnicos e alunos. Os ataques à autonomia universitária, abundantes na gestão, foram tema de uma live muito interessante junto com a ANDIFEs e UNE que aconteceu na terça-feira (16). O então ministro que nos acusava de balbúrdia agora será lembrado por sua gestão desastrosa. Mas sabemos que a luta continua, pois tudo indica que um novo ministro reacionário e privatista possa assumir o comando do MEC.
Antes de largar o cargo, infelizmente, Weintraub ainda deixa mais uma marca, a portaria 545, que revoga a portaria normativa do MEC número 13, de 2016, que trata da política de incentivo à políticas de acesso de negras e negros, povos originários e pessoas com deficiência à pós-graduação das nossas universidades, institutos federais e Cefet.
Sabemos que essa decisão, mais uma racista, dialoga com a extrema-direita, mas também com a história do nosso país marcada pelo racismo estrutural, desigualdade social e violência estatal. Assim, assistimos mais e mais casos de ações polícias violentas contra a população negra, tanto na esfera federal quanto estadual, como revela o mais novo caso de violência policial em São Paulo com a morte de Guilherme, de 15 anos.
Reunida durante a semana, a diretoria do ANDES-SN está convicta de que a articulação para a luta continua. Haverá muita resistência e reação aos retrocessos, nesse momento em que a pressão popular não irá cessar.