João Pedro Mattos foi morto porque obedeceu as recomendações e ficou em casa. Eternizado com os dedos fazendo o sinal de paz e amor, João Pedro foi morto porque era negro e periférico, pois como lembra Emicida há a “pele alva e pele alvo”. Seu corpo adolescente foi levado baleado e ficou desaparecido por 17 horas.
João Pedro foi morto na mesma semana em que jovens participaram de um movimento, que começa vitorioso, para adiar a prova do Enem, ciosos de que a universidade ainda é uma das poucas portas de ascensão dos filhos e das filhas da classe trabalhadora, em uma sociedade marcada pelo racismo.
Mas João Pedro não vai entrar na faculdade, pois a mesma mão que executa índios, sem terras, sem tetos, executa os pretos e as pretas dos mais distintos cantos desse país.
Mais um jovem negro morto. Estava em casa. João Pedro morreu. E as políticas genocidas do governo Bolsonaro e de governos estaduais, como do Rio, continuam tirando da juventude os sonhos, seja de fazer uma faculdade, seja de existir. A música que toca nos castelos nunca será a mesma que toca aqui no chão da existência.
Em uma sociedade de racismo estrutural, naturalizou-se a morte de negros e negras. E paradoxalmente, entre a declaração racista do presidente da Fundação Palmares, que deveria ser instrumento institucional de luta contra o racismo, e a morte de João Pedro, temos uma semana.
Os racistas estão no poder. E a nós cabe apenas a única coisa que aprendemos ao longo da história, continuar a lutar, com versos e pulsos.