Se a paz não for para todos, não será para ninguém

Publicado em 22 de Maio de 2020 às 14h43. Atualizado em 25 de Maio de 2020 às 09h29

João Pedro Mattos foi morto porque obedeceu as recomendações e ficou em casa. Eternizado com os dedos fazendo o sinal de paz e amor, João Pedro foi morto porque era negro e periférico, pois como lembra Emicida há a “pele alva e pele alvo”. Seu corpo adolescente foi levado baleado e ficou desaparecido por 17 horas.

João Pedro foi morto na mesma semana em que jovens participaram de um movimento, que começa vitorioso, para adiar a prova do Enem, ciosos de que a universidade ainda é uma das poucas portas de ascensão dos filhos e das filhas da classe trabalhadora, em uma sociedade marcada pelo racismo.

Mas João Pedro não vai entrar na faculdade, pois a mesma mão que executa índios, sem terras, sem tetos, executa os pretos e as pretas dos mais distintos cantos desse país.

Mais um jovem negro morto. Estava em casa. João Pedro morreu. E as políticas genocidas do governo Bolsonaro e de governos estaduais, como do Rio, continuam tirando da juventude os sonhos, seja de fazer uma faculdade, seja de existir. A música que toca nos castelos nunca será a mesma que toca aqui no chão da existência.

Em uma sociedade de racismo estrutural, naturalizou-se a morte de negros e negras. E paradoxalmente, entre a declaração racista do presidente da Fundação Palmares, que deveria ser instrumento institucional de luta contra o racismo, e a morte de João Pedro, temos uma semana.

Os racistas estão no poder. E a nós cabe apenas a única coisa que aprendemos ao longo da história, continuar a lutar, com versos e pulsos.

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