Trabalhadores da empresa americana Alphabet, que controla o Google e várias empresas, anunciaram na última semana (4) a criação do Sindicato de Trabalhadores da Alphabet nos Estados Unidos da América (EUA). O grupo é afiliado ao Sindicato de Trabalhadores de Comunicações das Américas, que representa as e os trabalhadores de telecomunicações e mídia nos EUA e no Canadá.
O novo sindicato é formado por mais de 200 filiados e filiadas que acreditam que a estrutura da empresa precisa mudar. A Alphabet é acusada de reprimir, perseguir e demitir as e os trabalhadores quando denunciam discriminação, assédios e abusos, ou quando alertam sobre os danos que os produtos e tecnologias das empresas podem causar a sociedade e ainda sobre a política antitruste e monopólio, além das condições de trabalho das e dos contratados.
Em 2018, mais de 20 mil funcionários e funcionárias fizeram uma greve para protestar contra a forma como a empresa lidava com o assédio sexual. Outros se opuseram a decisões de negócios que consideraram antiéticas, como desenvolver inteligência artificial (IA) para o Departamento de Defesa e fornecer tecnologia para a Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA.
No mês passado, Timnit Gebru, uma mulher negra e respeitada pesquisadora de IA, disse que o Google a demitiu depois de ela ter criticado a postura da empresa quanto à contratação de minorias e aos preconceitos embutidos nos sistemas de IA, que cometem mais erros no reconhecimento facial de pessoas negras do que a de brancas. Sua saída gerou uma tempestade de críticas em relação ao tratamento que o Google dá aos funcionários que fazem parte de minorias. O Google tem apenas 1,6% mulheres negras entre todos os seus funcionários e funcionárias.
Em um artigo de opinião publicado no dia 4 pelo jornal New York Times, Parul Koul e Chewy Shaw, presidenta e vice-presidente do sindicato, afirmam que as e os executivos da Alphabet faziam promessas simbólicas às reivindicações das e dos trabalhadores. “Para aqueles que são céticos em relação aos sindicatos ou que acreditam que companhias digitais são mais inovadoras sem sindicatos, queremos relembrar que estes e outros problemas persistem. Discriminação e assédio continuam”, escreveram.
A Alphabet “continua a censurar aqueles que se atrevem a falar, e a impedir trabalhadores de falarem sobre assuntos sensíveis e importantes para o debate público, tais como concentração e poder monopolista”, criticaram.
Para a nova diretoria, é preciso que a Alphabet e Google criem condições de trabalho inclusivas e justas, que sejam responsabilizados as e os autores de assédio, abuso, discriminação, que tenham a liberdade de recusar trabalhar em projetos considerados antiéticos ou que destoem dos seus valores, e que as e os trabalhadores, independentemente da função ou do tipo de contrato, tenham isonomia dos benefícios e voz dentro da empresa.
“Cerca de metade [das] dos trabalhadores na Google são temporários, vendedores ou fornecedores. Recebem salários mais baixos, recebem menos benefícios, e têm pouca estabilidade no emprego em comparação com trabalhadores de tempo inteiro, apesar de muitas vezes fazerem exatamente o mesmo trabalho", afirmam. Eles chamam a atenção das e dos trabalhadores temporários serem, em sua maioria, pretos ou pardos. O sistema de emprego, segundo a direção do sindicato, é segregador.
"Todos na Alphabet - de motoristas de ônibus a programadores, de vendedores a zeladores - desempenham um papel crítico no desenvolvimento de nossa tecnologia. Mas agora, alguns executivos ricos definem o que a empresa produz e como seus trabalhadores são tratados. Esta não é a empresa para a qual queremos trabalhar", completaram.
"A Alphabet é uma empresa poderosa, responsável por vastas áreas da Internet. É usado por bilhões de pessoas em todo o mundo. Tem a responsabilidade de priorizar o bem público".
Com informações de El País e New York Times