Nota do ANDES-SN sobre as manifestações de “comemoração” do golpe de 1964

Publicado em 28 de Março de 2019 às 13h55. Atualizado em 28 de Março de 2019 às 13h57

Nota da diretoria do ANDES-SN sobre as manifestações de “comemoração” do golpe empresarial-militar de 31 de março de 1964

“Não é lícito esquecer, não é lícito calar. Se calarmos, quem falará? Claro que não os culpados e seus cúmplices. Se faltar nosso testemunho, num futuro nada distante os feitos da bestialidade nazista, exatamente por sua enormidade, poderão ser relegados ao rol das lendas. Falar, portanto, é preciso.”  Primo Levi, Deportados. Aniversário. A assimetria e a vida.

A diretoria do ANDES-SN vêm a público somar-se às manifestações de repúdio à recomendação da Presidência da República ao Ministério da Defesa para que sejam feitas “comemorações devidas” no dia 31 de março de 2019, quando se completam 55 anos do golpe empresarial-militar de 1964.

Após oito anos, o golpe empresarial-militar que depôs o presidente Jango, cassou direitos políticos, praticou a tortura sistemática contra opositores, exterminou 8 mil indígenas, assassinou e mantém “desaparecido(a)s" 434 militantes e opositores do regime, puniu 4.841 cidadã(o)s com perdas de direitos políticos, cassação de mandato, aposentadoria e demissão, entre estes 3873 funcionário(a)s público(a)s, sendo 72 professore(a)s e 61 pesquisadore(a)s, o golpe empresarial-militar volta a ser oficialmente incluído na agenda oficial do governo federal.

A sociedade civil brasileira não pode tolerar e aceitar que os retrocessos políticos com a ascensão ao poder da ultradireita recuem ao período em que as liberdades democráticas foram interrompidas.

Os resultados finais da Comissão Nacional da Verdade, em que o Estado brasileiro reconheceu oficialmente os crimes cometidos por agentes e funcionários dos governos em nome da Doutrina de Segurança Nacional e da política de “guerra ao inimigo interno” não podem ser rasgados com uma simples recomendação de quem ocupa o principal cargo de representação política do país.

O ANDES-SN somou-se às várias iniciativas da sociedade civil, familiares de preso(a)s e perseguido(a)s político(a)s, instituições, parlamentos, partidos políticos, igrejas, e também constituiu uma Comissão da Verdade para trazer à tona os crimes cometidos pelo Estado brasileiro contra professore(a)s, estudantes, servidore(a)s técnico(a)-administrativo(a)s das Instituições de Ensino Superior.

Entendemos que é preciso continuar a busca por informações sobre os assassinatos de militantes que se tornaram, na linguagem do poder ditatorial, “desaparecido(a)s político(a)s”, pois foram preso(a)s por agentes do Estado vivo(a)s e o(a)s familiares até hoje continuam a busca de informações sobre as formas pelas quais se deram o seu assassinato e desaparecimento.

Para a diretoria do ANDES-SN é preciso que o Estado brasileiro, na forma de suas instituições, façam valer os resultados da Comissão Nacional da Verdade, entregues em relatório final em 10 de dezembro de 2014, com 29 recomendações à União para o aprofundamento do Estado democrático de direito, reparando-se as graves violações aos direitos humanos e construindo uma cultura de paz e justiça.

Somente com memória, verdade, justiça e reparação a sociedade brasileira estará alerta para o perigo do retorno de quebra das instituições democráticas. Manifestações que buscam revisar o passado recente para apagar das memórias as lutas que o povo brasileiro engendrou contra a ditadura empresarial-militar devem ser repudiadas por toda a sociedade.

Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça.

Por memória, verdade, justiça e reparação.

Brasília(DF), 27 de março de 2019.

Diretoria do ANDES-Sindicato Nacional

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