Os e as docentes da Escola de Aplicação da Universidade Federal do Pará (EAUFfpa) têm recebido ataques pela decisão, do Conselho Escolar, de manter as aulas presenciais suspensas no 4º bimestre de 2021 (para o dia 29 de novembro) e por se posicionarem pelo não retorno presencial neste momento, pois não existe condições de infraestrutura adequadas que garantam as medidas de segurança sanitárias necessárias para receber a comunidade acadêmica para as aulas presenciais. Além disso, não há um número adequado de servidores/as que garantam o funcionamento da unidade, sobretudo neste contexto. Atualmente, a EAUfpa tem aproximadamente 1300 estudantes e pouco mais de 150 docentes, sendo a maior escola de aplicação da rede de universidades federais, atendendo desde a educação infantil até o Ensino Médio e EJA.
Segundo Jennifer Webb Santos, 3ª tesoureira do ANDES-SN, membros da comunidade acadêmica estão sofrendo uma sucessão de ataques de ódio. A diretora do Sindicato Nacional relatou que a avenida em frente à escola foi pichada e mensagens agressivas foram postadas em redes sociais, acusando docentes de não estarem cumprindo com suas funções, utilizando expressões como “chefe de gangue” para se referir à uma docente, além de verbalizações que ocorrem, inclusive, em reuniões internas.
Devido às condições impostas pela pandemia da Covid-19, a EAufpa, assim como demais escolas país afora, adotaram o “ensino remoto emergencial” como alternativa para manter as atividades de ensino de milhares de estudantes. Essa modalidade acabou por acarretar aos professores e às professoras uma carga ainda maior de trabalho, aprofundando a intensificação do trabalho e contribuindo para o adoecimento da categoria.
Em uma carta às famílias e aos e às discentes, docentes relatam o esforço na adequação das atividades para o modelo remoto e todas as dificuldades enfrentadas pela comunidade acadêmica nesse processo. Ressaltam, porém, que apesar das limitações desse modelo, não é possível retomar ainda as atividades presenciais sem a contratação de bolsistas, cuidadores e pessoal de limpeza e cozinha, além de instalações que ofereçam condições seguras e adequadas aos protocolos sanitários. Foram incluídas, em anexo à carta, diversas imagens que demonstram as precárias condições da escola.
“Um dos ensinamentos dessa pandemia, e que vinha sendo negado por muitos antes e após entrarmos nesse contexto de emergência sanitária, é que nada substitui a Escola e as relações sociais e afetivas que ela promove, e afirmamos que o desejo do retorno presencial é de todos/as nós, mas, como professores/as e pesquisadores/as, não podemos concordar com um retorno abrupto, sem planejamento e estrutura”, afirmam os e as docentes na nota.
“É importante ressaltar que desde o mês de setembro as coordenações dos níveis de ensino estão planejando o retorno presencial, que é impedido de ser retomado por pelo menos quatro razões: a) um grande número de discentes ainda não vacinados; b) problemas com estrutura física de salas e outros espaços coletivos (vide anexos); c) redução no número de servidores e bolsistas e; d) Ausência de cuidadores. Tais fatores corroboram significativamente para a não qualidade da aprendizagem dos discentes”, aponta ainda a carta.
De acordo com Jennifer, a ausência da administração da EAUfpa na comunicação com a comunidade escolar e na busca por saídas para garantir as condições adequadas de retorno têm contribuído para que a situação tenha chegado neste ponto. ''Na reunião do Conselho Escolar que deliberou pela manutenção das atividades online, a vice-direção da escola votou pelo retorno das aulas presenciais, ignorando a recomendação da Comissão constituída para discutir as condições de retorno, e que também foram apresentadas em uma carta elaborada pelos/as docentes'', pondera Jennifer.
Confira aqui a Carta dos e das docentes da EAUfpa
Em nota, a diretoria do ANDES-SN repudia os ataques e manifesta apoio às e aos docentes que têm sofrido ataques de grupos que desejam, a qualquer custo, o retorno das atividades presenciais naquela unidade acadêmica.
“O fato é que nossa categoria não deixou, e nem tem deixado de trabalhar durante a Pandemia da Covid-19. Ao contrário, fomos convocado(a)s compulsoriamente a desenvolver nossas atividades escolares dentro das nossas casas, adquirir equipamentos, dados de internet, dar conta de um espaço adequado para o desenvolvimento do chamado 'Ensino Remoto' dentro do espaço doméstico, atravessado por demandas familiares, perdas e adoecimentos”, ressalta o Sindicato Nacional.
A nota do ANDES-SN lembra ainda que “a ausência de planejamento e de recursos necessários à garantia de um retorno presencial nas escolas públicas encontra-se inserida em um contexto de cortes de recursos, atraso nas medidas de controle da pandemia, restrições de acesso e ataques à ciência”.
“Não podemos aceitar que o negacionismo, que ceifou mais de 600 mil vidas e deixou pelo menos 130 mil órfãos no Brasil, assim como a culpa pelas vidas interrompidas sejam imputados à(o)s docentes”, finaliza a diretoria do Sindicato Nacional.