Docentes da Faculdade de Tecnologia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (FAT/Uerj) denunciam a situação de abandono e invisibilidade no campus, localizado na cidade de Resende, no sul fluminense. A Associação dos Docentes da Uerj (Asduerj - Seção Sindical do ANDES-SN) visitou em setembro a faculdade para investigar as denúncias.
A visita deu seguimento ao levantamento das condições de trabalho nas unidades acadêmicas, após o anúncio feito pela Reitoria da Uerj sobre a criação de novos cursos e campi, a despeito de uma evidente precariedade nas estruturas já existentes na universidade.
Nos relatos, as e os docentes afirmaram se sentir invisibilizados pela gestão da universidade. “A Uerj não nos enxerga”, afirmou um deles. “Estamos aquém do Uerj Resiste, a gente parece que não existe”, lamentou outro. A falta de uma sinalização adequada à presença da universidade no local é inclusive uma das demandas da unidade. “Já solicitamos providências a esse respeito à Prefeitura dos campi, mas não obtivermos retorno”, declarou Bernardo da Fonseca, vice-diretor da FAT.
Para o corpo docente, a invisibilidade seria uma das principais causas do que consideram um problema central da unidade. A FAT tem potencial para receber um número muito maior de estudantes por semestre do que ocorre hoje. “A gente faz um esforço para dar palestras em escolas, apresentando os cursos, mas o resultado não tem sido efetivo. Fizemos, no ano passado, 20 palestras online, mas não temos como competir com o bombardeio feito pelas particulares, que se utilizam de vários meios, inclusive a TV”, lamenta Luciana Ghussn, coordenadora do Núcleo de Extensão da faculdade. Já o vice-diretor da unidade acredita que a assessoria e outros órgãos da administração central poderiam cumprir um papel importante nessa divulgação.
Outra reivindicação para o ingresso de estudantes é a diversificação das portas de entrada na universidade. Nos últimos dois anos, a FAT foi autorizada a utilizar, de forma excepcional, a pontuação do Enem para preencher as vagas remanescentes do vestibular próprio da Uerj. O resultado levou ao ingresso do triplo das alunas e dos alunos das seleções anteriores. Para a coordenadora de Extensão, seria importante que essa excepcionalidade se tornasse permanente. “Por enquanto, temos que rediscutir essa possibilidade a cada ano. A gente fica numa situação que não sabe nem explicar nas escolas que visitamos se haverá entrada pelo Enem ou não”, lamenta. Procurada pela Asduerj SSind., a coordenação do Departamento de Seleção Acadêmica da Uerj (Dsea) não quis falar sobre o assunto.
Distanciamento
O distanciamento da Administração central das Uerj também foi apontado como um dos entraves ao desenvolvimento da unidade. “Temos de cuidar de várias coisas que não são funções dos docentes. Seria necessário que tivéssemos a presença de técnicos, das pró-reitorias e da prefeitura dos campi em nossa unidade de forma permanente. São condições de trabalho muito diferentes na mesma instituição e a gente é comparado pela mesma métrica”, aponta uma professora. “O que pedimos, na verdade, é uma atenção maior às unidades externas por parte da Reitoria, devido às suas demandas específicas”, sintetiza Luciana Ghussn, coordenadora do Núcleo Extensão da FAT.
Financiamento insuficiente
Essa percepção de abandono se materializa também na insuficiência de financiamento para a FAT. “Nunca houve investimento no nosso campus. O que conseguimos realizar aqui é a partir de verbas do Sides (Sistema de Desembolso Descentralizado), por meio de recursos captados por editais da Faperj ou de nossos cursos latu sensu”, relata o vice-diretor. O resultado é uma série de precariedades que inclui a falta de mobiliário adequado, como cadeiras e mesas, e até mesmo a insuficiência de laboratórios. Em 2019, a FAT recebeu da prefeitura dos campi 62 aparelhos de ar-condicionado, destes, 20 permanecem dentro das caixas devido à insuficiência da estrutura elétrica para a instalação.
“Precisaríamos de 16 laboratórios, mas só temos sete. Ficamos montando e desmontando material o dia inteiro, o que muitas vezes provoca danos nos equipamentos. Não temos local para ficar. Não temos suporte, nem infraestrutura. Não existe um espaço físico para a pesquisa aqui no campus. Quando precisamos fazer um experimento, temos de esperar uma hora que não tenha aula no laboratório para a gente entrar”, relata uma docente do curso de Engenharia Química.
Diferente do campus Maracanã, o de Resende não tem limitação de espaço. Por isso, as e os docentes cobram que obras de infraestrutura, desde o aumento da capacidade da estrutura elétrica até a reforma de prédios, deveriam ser feitas com verbas da Uerj e não do Sides.
Sem equipamentos de emergência
A falta de estrutura ou orientação para procedimentos em casos emergenciais relacionadas à saúde, sejam provocados por acidentes ou outras circunstâncias, foi outra preocupação recorrente apontada pelas e pelos docentes da FAT que ressaltaram ainda a peculiaridade da localização do campus, onde não há unidades de saúde próximas.
Questionada pela Comunicação da Asduerj SSind. sobre esta demanda, o Comitê de Assessoramento em Ações de Promoção à Saúde da PR-5 informou ter realizado em outubro a 1ª Semana de Promoção da Saúde Universitária, atividade que incluiu o campus de Resende. A ação em parceria com a Faculdade de Enfermagem contou com treinamento de simulação realística, de mobilização em caso de quedas e de ressuscitação cardiopulmonar. A PR-5 informou ainda que tem visitado os campi externos visando a levantar as demandas de saúde específicas de cada unidade. “Até o momento, identificamos que nenhuma unidade, exceto o campus Maracanã, tem equipamentos para casos de emergências”, afirmou Alessandra Nunes, coordenadora de Assistência em Saúde, professora Alessandra Nunes. Segundo ela, a PR-5 “vem elaborando uma proposta de atendimento emergencial nestes locais”.
Faculdade de Tecnologia
A Faculdade de Tecnologia (FAT) foi criada em 1993, em Resende, município onde se localiza um dos mais importantes polos industriais do país. Expoente tradicional no setor automobilístico e metalomecânico, a cidade do Sul Fluminense está intimamente ligada às pautas tecnológicas. O campus da FAT ocupou inicialmente um espaço no bairro Morada da Colina e lá permaneceu por cerca de uma década. No entanto, a expansão passou a ser uma necessidade e encontrou um momento oportuno com a doação de um espaço físico feita pela multinacional fotográfica Kodak. A empresa, que encerrou seus atividades na região em 2001, repassou para a Uerj as instalações de sua antiga fábrica, com uma área de aproximadamente 200 mil m² (20 mil m² de área construída). As obras de adaptação aconteceram entre 2004 e 2007, ano em que a FAT foi definitivamente transferida para as novas instalações.
Fonte: Asduerj SSind., com edição do ANDES-SN