ANDES-SN se manifesta contra nota da CNI que ataca servidores públicos brasileiros

Publicado em 29 de Outubro de 2020 às 16h34. Atualizado em 29 de Outubro de 2020 às 18h04

Na última terça-feira, (27), a Confederação Nacional da Indústria (CNI) publicou a nota econômica “O peso do funcionalismo público no Brasil em comparação com outros países”. A CNI aponta que o Brasil é o sétimo país que mais gasta com funcionalismo como proporção do Produto Interno Bruto (PIB) e o desqualifica para justificar os ataques profundos ao serviço público contidos na reforma Administrativa.

O documento, que ganhou projeção em diversos meios de comunicação essa semana, é um recorte de diversos estudos sobre o funcionalismo público no Brasil e mundo. A nota afirma que as despesas com funcionários públicos no país são elevadas para o padrão internacional e que, se não houver mudanças, continuarão a crescer.

Em seguida, a CNI defende mudanças nas regras gerais do funcionalismo público brasileiro, contida na Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 32/20, que propõe uma desestruturação nos serviços públicos, em especial aqueles relacionados aos direitos sociais garantidos constitucionalmente à população.

Segundo Antonio Gonçalves, presidente do ANDES-SN, a nota da CNI faz parte da estratégia do Capital para pressionar o Congresso Nacional a aprovar a PEC 32/2020.  "A CNI distorce dados e faz comparações inconsistentes para construir uma narrativa em defesa da contrarreforma Administrativa e pressionar o Congresso Nacional pela aprovação. Os interesses são indisfarçáveis e consistem em apropriação privada do fundo público. A contrarreforma deve ser derrotada no seu conjunto para avançarmos na garantia de direitos para o conjunto da população", afirma.

Incoerências
O estudo se utiliza de metodologias diferentes ao se referir às despesas com servidores públicos ativos e inativos em proporção ao PIB do país. Em outros momentos, quando estima a quantidade de servidores públicos em proporção aos empregos públicos e privados ou com a população total, considera apenas os servidores ativos. Informações consideradas pela CNI, do Banco Mundial, por exemplo, afirmam que as despesas com servidores públicos, ativos e inativos, no Brasil equivaleram a 13,4% do PIB em 2018 – União, estados e municípios. Já um levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), fundação pública federal vinculada ao Ministério da Economia, utiliza apenas a folha de pagamento dos servidores públicos ativos, que representa 10,5% do PIB, em 2017, de acordo com Atlas do Estado Brasileiro, incluindo os trabalhadores terceirizados. O percentual brasileiro é menor do que países, como a Austrália, que o custo com os salários do funcionalismo representa 17% do PIB e da Espanha, 12,2%. 

Já os dados publicados este ano pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE), em um levantamento composto por 35 países, estima que em 2018 a força de trabalho do setor público foi menor nos países da América Latina e do Caribe, 11,9%, do que a média dos países da OCDE, 21,1%. O número de funcionários públicos no Brasil correspondeu a 12,5% do total de empregados. Na Argentina, país vizinho, o total foi de 17,2% da mão de obra total. Quando comparado o número de servidores públicos ativos em relação à população no Brasil, o resultado é de 5,6%, um pouco acima da média da América Latina e Caribe (4,4%). No entanto, esse percentual é bem mais baixo que o encontrado na média dos países da OCDE, 9,6%.

O relatório da CNI cita a diferença salarial dos servidores públicos e privados e compara com outros países. Os altos salários do Legislativo e Judiciário não ganham tanto destaque na nota, assim como a informação de que a reforma Administrativa poupará, por exemplo, militares, juízes, parlamentares e não atingirá as tão comentadas disparidades salariais no serviço público. Ao contrário, a PEC destaca apenas os servidores do Executivo da União, Estados e Municípios.

A nota ainda se utiliza de dados do Instituto Millenium, já denunciado pelo ANDES-SN como uma entidade a serviço do Capital e cujo um dos fundadores é o atual ministro da Economia, Paulo Guedes, ferrenho defensor da reforma Administrativa.

Fonacate repudia nota
O Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado (Fonacate), que representa mais de 200 mil servidores públicos no país, lançou uma nota na última terça-feira (27) afirmando que não há descontrole ou explosão de despesas com o funcionalismo público no Brasil como sugere o documento da CNI.

“As despesas com servidores no Brasil, em nível federal, estão estabilizadas em percentual do PIB há mais de 20 anos e abaixo do limite permitido pela LRF, mesmo com a estagnação do PIB e das receitas no período recente. Nos níveis estadual e municipal, o crescimento do gasto pós Constituição de 1988 deriva das maiores atribuições desses entes na prestação direta de serviços à população, notadamente em educação, saúde e segurança”, diz um trecho da nota.

De acordo com o Fonacate, o posicionamento da CNI em “atacar direitos sociais e salários, como na reforma trabalhista, e o serviço público, como agora, não vai melhorar a situação da indústria brasileira, ao contrário, a prejudica ainda mais, com o enfraquecimento do mercado interno e a desestruturação das políticas públicas, inclusive a industrial”, finaliza.

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